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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Lisbon Revisited (l923)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Érasthai



Dois amores me dominam e não sei como controlar.
Em meu coração, um faz a festa que bem entende, quando o outro não está. Quem ousou dizer que só é possível o amor se for a dois?
Por que ninguém acredita na possibilidade de amar mais de uma pessoa simultaneamente?
Pois bem, eu amo. E amo muito.
Um, eu amo de forma ardente. Queira mostrá-lo a ambiguidade do meu amor: ora tão belo, ora tão bestial.
E o outro, eu só queria abrigar em meus braços e dizer que a amo.
Amo com desejo, com carinho e com respeito tanto ele quanto ela.
Meus amores, minha dor, meu tormento, minha vida.

If

Se soubesses quanta paz
Tua dócil presença traz
Sua face tão perfeita
Sem aqueles traços de tristeza
Que noutros rostos fitei.
Uma voz amavelmente serena
Sua boca rosa e pequena
Me fazem desejar-te além do permitido
Ó loucura, que me faz perder o sentido
Se soubesses quão cativante és.
Enleva-me tanto que nem sinto o chão sob meus pés.
Queria essa paz para sempre
Acalmando minha vida, espírito e mente.
Ah! se eu pudesse a ti mostrar
Todo o encanto que a vida tem pra dar
Ah! minha bela [...], queria você pra mim
Mas se isso eu fizer, creio, será meu fim


Talvez, se o pulsar das veias do meu corpo não estivesse tão fraco.
Se meus olhos tão tristes pudessem contemplar a tua beleza mais uma vez
Ah! minha bela[...]
Se eu pudesse te daria a minha vida
Ah! se eu ainda a tivesse.

Realidade Ou Fantasia?

Como descrever este enlace entre nós doi?
Eu e Ele ligados. Há uma coisa tão forte.
Se eu ao menos soubesse explicar.
Fantasia e realidade não deveriam andar juntas.
Uma combinação letal, quando não usadas na dose exata.
O que é uma dose a mais de fantasia, senão mais harmonia, flores desabrochando, coração amando.
Assim, fica tudo mais perfeito e nem precisa ser real.
Realidade em dose maior causa dor, desencantamento pérfido.
É tão cruel ser real quando se tem... amor.
- Amor ?
- Sim, amor. Ou será que é paixão, daquelas que tiram o sono e desgraçam um coração.
Se eu ao menos soubesse explicar, se é feito de realidade ou fantasia.
Digo e repito, que não sei.
Mas dentro de mim reina uma verdade absoluta:
Assim como o sol pertence ao dia e a lua pertence à noite.
Sinto no meu íntimo que pertenço a ele, seja de verdade ou de mentira.

sábado, 18 de dezembro de 2010

A Poetisa

O Mundo lhe causou muito sofrimento
Mas ela está sempre sorrindo
Nunca deixando transparecer a dor que sente.
Há melancolia em sua alma.
Ela segue seu caminho, sempre escondendo o que tem de mais lindo: o coração.
A poetisa transcreve sua fragilidade em belas palavras.
Um fragilidade que a faz tão doce...Fragilidade que a faz tão adorável.